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Texto de apresentação de Ivair Reinaldim para Eloá Carvalho


Mise en Scène

O termo que dá título à exposição de Eloá Carvalho, se traduzido de modo literal, significa “colocado em cena”, e seu uso, ao migrar do teatro para o cinema, marca a crescente valorização da figura do diretor como aquele que organiza e controla a construção dramatúrgica do filme em todos os seus detalhes. Não que a artista tenha desenvolvido aqui um diálogo direto com o cinema – mesmo que alguns de seus trabalhos anteriores apresentem tais referências. O que fez foi assumir uma operatividade que em si pode ser aproximada da prática do “metteur en scène”.

Assim, o termo torna-se indício de como o olhar autoral da artista reconfigura e contextualiza personagens de diferentes características, feições e procedências históricas num espaço cênico comum, seja ele o da superfície do papel ou pintura ou mesmo o da Galeria de Arte do Ibeu. Sinaliza o arranjamento dos corpos e das coisas através de tais espaços, como também a dimensão mais ampla da encenação presente nesses elementos. Suas personagens encenam seus papéis: aqueles que acreditam desempenhar e aqueles que a artista as põe a representar.

O projeto aqui exposto teve início com uma extensa pesquisa no acervo iconográfico do Ibeu. Nesse arquivo, a artista selecionou suas personagens entre os registros fotográficos das diversas aberturas de exposição promovidas pelo Instituto, dos anos 1950 aos nossos dias. Em seguida, tais figuras foram desenhadas e recombinadas em novos conjuntos, encontrando-se parte desses desenhos acessíveis nesta mostra. Alguns deles, no entanto, continuaram a ser trabalhados por meio da pintura e, dispostos em novos contextos, ganharam maior densidade e corporeidade.

Vistas em conjunto, as imagens contidas nesses desenhos e pinturas representam um evento construído por camadas de tempo superpostas. Por um instante, todas essas personagens coexistem, mantêm-se presentes nesse espaço que habitaram em algum momento no passado. Instalados na Galeria do Ibeu, os trabalhos de Eloá Carvalho prolongam suas dimensões e nos convidam, como espectadores, a compartilhar do estado imersivo de suas figuras. Mas é preciso não nos deixar inebriar pela aparente naturalidade das poses. Na cena, nada é espontâneo.