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Para sempre até - Claudia Tavares e Renata Cruz



A exposição “Para sempre até”, das artistas Cláudia Tavares e Renata Cruz, com curadoria de Jozias Benedicto, teve como inspiração uma residência rtística na Vila de Paranapiacaba, São Paulo, no topo da Serra do Mar, em plena Mata Atlântica, que as artistas vivenciaram em 2017. A imersão na floresta, associada às leituras e debates, foram o ponto de partida para a elaboração, pelas artistas, deste projeto que foi selecionado pela Galeria IBEU.


Uma frase da escritora uruguaia Fernanda Trías, “O mundo cai em pedaços, mas só aos pedaços se constrói algo”, descreve a proposta das artistas, inventando, para os visitantes da exposição, um novo mundo com suas memórias e seus registros da floresta. Os desenhos de Renata, de sua série “Para sempre um dia”, saltam das paredes e se unem, arquitetando “árvores”, criando caminhos entre os quais o espectador pode passear e fazer suas descobertas. As fotografias e os objetos que Cláudia recolhe e ressignifica se espalham pelas paredes, como corpos celestes ancorados a um horizonte de palavras, os “até”.

Com sensibilidade e esmero, as artistas nos convidam a entrar neste mundo que construíram e que respira, vivo, no espaço expositivo - e é interessante lembrar que a galeria fica a uma pequena caminhada de trilhas que nos levam à Floresta da Tijuca, a terceira maior floresta urbana do mundo.


Serviço :
“Para sempre até” - Exposição individual simultânea das artistas Cláudia Tavares e Renata Cruz
Curadoria: Jozias Benedicto
Galeria Ibeu - Rua Maria Angélica, 168 - Jardim Botânico, RJ
Abertura para convidados: 8 de maio, das 18h às 21h

Visitação: 9 a 31 de maio de 2024
Horário de visitação: segunda a quinta, de 13h às 19h; sextas, de 12h às 18h.
Entrada franca - sem restrição de idade

Texto crítico de Luiz Alberto Oliveira para a individual de Alessandra Vaghi

 


Uma Reflexão sobre Ritual e Sacrifício
Sobre a exposição “Hecatombe”, de Alessandra Vaghi
Luiz Alberto Oliveira

Na antiga Hélade, foram costumeiros os rituais em que animais eram sacrificados para propiciar os Deuses, dentre eles Hera, soberana do Olimpo e protetora dos lares, e Atena, divindade da sabedoria e da guerra. Quanto o número de animais era grande, a cerimônia era chamada de “Hecatombe” (o termo grego original designava a matança de 100 reses). Em nossos dicionários, o termo passou a significar chacina, massacre, carnificina. E, por certo, não apenas de animais de pastoreio.

O conjunto de trabalhos artísticos que Alessandra Vaghi nos apresenta sob este título oferece várias dimensões de reflexão. A mais imediata diz respeito a uma inflexão que vivemos na sociedade contemporânea: a hecatombe é das matas, em favor dos bovinos. O exame de mapas da cobertura vegetal no Brasil de algumas décadas para cá não deixa dúvidas acerca do morticínio em larga escala desfechado contra savanas e florestas, a ferro – e a fogo. Pois um segundo viés de devastação ampla foi o da conversão de madeira em carvão, em particular para uso em siderúrgicas. Deixando de fabricar ar, a mata fornece fogo para forjar o ferro; a contemplação dos sacos alinhados de lenho carbonizado inevitavelmente nos questiona sobre sua origem. 


Em seguida, e ainda mais profundamente, somos conduzidos da substância para a luz – ou, antes, para sua abolição. É o negrume do carvão, por contraste, a fonte principal para o transluzimento do ambiente; a claridade diáfana dos feixes luminosos da cave onde os gestos rituais se desempenham – subterrâneos, silenciosos, suaves – abduz, e compõe, com o peso escuro da muralha de sacos. Este cenário íntimo, recluso, hospeda a sequência de movimentos pelas quais uma moradia – o lugar onde a gente se demora – é constituída sob nossas vistas, encarnada nos utensílios que põe o banco como mesa. Este domicílio improvável é como que o avesso da paisagem vista do alto, tão belamente exposta ao lado; tal como lá a vida se diferencia e espraia, aqui é a feminilidade que se multiplica.

De Jorge Luis Borges aos paradoxos quânticos e às histórias em quadrinhos, o conceito de multiverso se disseminou largamente em nossa cultura. O rol de questionamentos que Alessandra nos traz tão sutilmente talvez tenham como eixo integrador, fundacional ainda que indiscernível, fulgurante ainda que obscuro, o mistério mesmo de que as Deusas arcaicas eram símbolo: o da potência multiversal do feminino.


Rio, 03 de Abril de 2024