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2011 | Folder Flávia Junqueira

Folder Flávia Junqueira
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2011 | A CASA EM FESTA - Texto de Fernanda Pequeno

A CASA EM FESTA

Mrs. Dalloway, Mrs. Dalloway, sempre dando
festas para encobrir o silêncio! (Virginia Woolf)

A temporalidade da festa é de outra ordem, que não aquela corriqueira, da rotina. Lembra, por isso mesmo, a dos feriados: dias de descanso e lazer. As festas são datas especiais que requerem cenário, figurino e humor específicos, pois pressupõem alegria, sociabilidade e alguma dose de solenidade. Embora à primeira vista seja isso que encontremos, as fotografias de Flávia Junqueira demonstram o quanto de artificialidade existe nesses arranjos, já que celebrações são momentâneas. A série que a artista expõe na Galeria IBEU do Rio de Janeiro intitula-se “A casa em festa” e demonstra o que há de construção nessas cerimônias. O lugar que a ambienta aguarda por uma habitação humana, mas termina por afirmar-se extremamente cenográfico e frio. Esse espaço já fora explorado pela artista em fotografias anteriores que lidavam com o acúmulo e a memória dos objetos nele presentes. Mas na recente série, para além das associações com a ideia de aconchego e proteção que o lar pressupõe, temos latente uma nostalgia não do espaço em si, ou das coisas nele acumuladas, mas da infância, tempo-espaço de uma morada (supostamente) natural e descontraída.

Parece comum à maioria dos seres humanos certa dificuldade com o auto-enfrentamento, bem como em lidar com o silêncio e o vazio. Mas para que essa angústia não gere paralisias, busca-se o tempo inteiro preencher a “falta” - desamparo primordial presente no homem desde o nascimento - através do cultivo de projetos e do acúmulo material e de sabedoria. Por isso, evita-se constantemente ficar sozinho, traça-se metas, ama-se, estuda-se, trabalha-se, casa-se, deseja-se, converte-se, descobre-se a si mesmo, ao mundo e aos outros. Ao fazer uso de certa acidez em seus trabalhos, Flávia Junqueira toca fundo nessa ferida.

E assim, crescer se mostra doloroso, pois nos obriga a usar máscaras, imprescindíveis para viver em sociedade. Esse dado performático levaria a encenações, concessões e opções que muitas vezes são subjetivamente violentas e intimamente violadoras. Nesse sentido, as festas infantis de Flávia Junqueira enfatizam a ambiguidade do trabalho fotográfico. Os vários índices de decoração, presentes, brinquedos, doces, confetes, bonecos, balões e vestidos altamente coloridos são prova disso: em meio à profusão e ao excesso de cheiros, cores e sabores, há uma personagem desolada e, no lugar da leveza, a densidade.

Sendo assim, as seis fotografias em grandes formatos que compõem “A casa em festa” - ao colocarem a própria artista posando com um semblante melancólico em meio a um cenário de celebração - causam certo desconforto. Mas em lugar de melodramas ou de deprimir-se e deixar o espectador deprimido, sua melancolia gera fricções interessantes e inteligentes ambivalências na aceitação e na crítica dessa falta de sentido. De forma que a sedução e o brilho aparentes dessas impressões guardam, na realidade, uma dose de obscuridade.

Ao mesmo tempo, a artista se posiciona criticamente contra a ditadura (opressão) da alegria e do excesso, friccionando-os ironicamente. Pois, assim como o aniversário coroa o envelhecimento e a inauguração do ano solar, ao encerrar o inferno astral, o carnaval, por mais liberador que seja, está repleto de figuras dúbias ou arquetípicas da melancolia, como as do pierrô e as do arlequim. Essas tentativas de suspensão provisória ou de ênfase em uma alegria efêmera que em geral as festas fornecem, nada mais são que artifícios para evitarmos lidar com a solidão. Como disse Riobaldo, narrador e protagonista de Grande Sertão: Veredas: “Homem foi feito para o sozinho? Foi. Mas eu não sabia”. Assim, as encenações de Flávia Junqueira demonstram o quanto ficcionalizamos a existência para acreditarmos nessas mentiras. Porém, quando acaba a festa e encontramos seus vestígios, tudo se mostra amedrontadoramente vazio e silencioso. Mas, como convidados, somos bem-vindos dessa festa ainda imaculada. Por isso, sintamo-nos à vontade para compartilhar desse teatro e seu consequente desencanto.

Fernanda Pequeno, janeiro de 2011

2011 | Atualizações Novíssimos

Após a Casa em Festa, vale conferir a exposição de Daniel Lannes amanhã no MAM RJ. Daniel foi o artista premiado na 40ª edição do Salão Novíssimos (2010) e sua individual no Ibeu será no segundo semestre. Parabéns ao artista!

2011 | Inauguração A CASA EM FESTA

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2011 | Clipping art | ref



2011 | Clipping Veja Rio

2011 | Convite A Casa em Festa - Flávia Junqueira

Inauguração:
27 de janeiro
(quinta-feira)
às 20h


2011 | A Casa em Festa - Flávia Junqueira | Release

A Galeria de Arte Ibeu inicia suas atividades de 2011 com a individual A casa em festa, de Flávia Junqueira (SP), artista selecionada pela Comissão Cultural do Ibeu (Instituto Brasil-Estados Unidos) através do Edital do Programa de Exposições Galeria de Arte Ibeu 2011. A exposição tem a curadoria de Fernanda Pequeno e será inaugurada no dia 27 de janeiro de 2011 (quinta-feira), às 20h.

A exposição A casa em festa abriga seis fotografias em grandes formatos que exibem festas insólitas e cenográficas. Elementos como presentes, doces, canudinhos, balões, bonecos e brinquedos são dispostos exageradamente em cada imagem. No interior desse acúmulo e excesso de objetos festivos, há sempre o mesmo personagem, que encontra-se cabisbaixo e solitário. O contraponto estabelecido é proposital, pois a ideia dessas imagens é apresentar momentos extremos, conflitos e estruturas de pensamentos opostas: o tema explorado liga-se ao conforto e a sedução presentes no desejo da promessa de felicidade da festa, no entanto, os elementos que a compõe são todos finitos, pois a mesma tem prazo de validade. O processo de construção das imagens de Flávia Junqueira encontra-se com a cenografia, a performance e, finalmente, com a fotografia – depois de organizar os muitos objetos cautelosamente eleitos, a artista se coloca entre eles e legitima sua presença nessa festa através do registro fotográfico.

Ainda que, em um primeiro momento, acreditemos entrar no trabalho por vias de beleza, controle, organização de elementos e cores, nos deparamos com alguns detalhes de decepção, decadência, tristeza, passado e memória, diz Flávia Junqueira.

Fernanda Pequeno, curadora da exposição, diz: “Sendo assim, as seis fotografias em grandes formatos que compõem “A casa em festa” - ao colocarem a própria artista posando com um semblante melancólico em meio a um cenário de celebração - causam certo desconforto. Mas em lugar de melodramas ou de deprimir-se e deixar o espectador deprimido, sua melancolia gera fricções interessantes e inteligentes ambivalências na aceitação e na crítica dessa falta de sentido. De forma que a sedução e o brilho aparentes dessas impressões guardam, na realidade, uma dose de obscuridade."

A mostra ficará em cartaz de 28 de janeiro a 4 de março, com visitação das 13h às 19h, de segunda a sexta-feira, na Av. N. Sra. de Copacabana, 690/2º andar. A entrada é franca.

Flávia Junqueira nasceu em São Paulo, tem 25 anos, vive e trabalha na capital paulista. É graduada em Artes Plásticas pela FAAP. Dentre as coletivas que participou, destacam-se Energias na Arte, promovida pelo Instituto Tomie Ohtake (São Paulo), em 2009, e Olheiro da Arte, no Centro Cultural Justiça Eleitoral (Rio de Janeiro) em 2010. De fevereiro a agosto de 2011 participará do Programa de Residência Artística na Cité des Arts, Paris.