O que nos une, o que nos separa
O que nos une, o que nos separa, trabalho inédito que dá nome à mostra da artista Paula Huven na Galeria Ibeu, é estruturado, como boa parte de sua produção, a partir de encontros e desencontros. Quando a artista mineira fez sua mudança de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro, percebeu que alguns dos filmes fotográficos que tinha guardado estavam perdendo a validade. Durante os seis anos seguintes, ela construiu novos laços de amizade em sua nova cidade. Durante os mesmos seis anos, os filmes vencidos permaneceram guardados. O tempo estava passando para ambos, modificando tanto a sensibilidade dos filmes, quanto a relação da artista com as pessoas.
Entre 2011 e 2012 Paula usou esses filmes vencidos para retratar as amizades da nova cidade, em visitas às casas das pessoas, sempre em frente às janelas, aludindo a uma sensação de que no Rio de Janeiro o convívio se dá mais no espaço urbano do que no espaço privado. Se em O que nos une, o que nos separa a fotografia nasce como possibilidade graças à proximidade entre a artista e o retratado, também é marca da distância entre eles. Feitos com uma camera de médio formato, em longas-exposições [15 segundos], com o uso de um tripé, os retratos são indícios de uma pausa na relação pessoal para a construção de uma outra, localizada na intensificação do momento de feitura dessas imagens[1].
Já em Insensíveis (2012), outra obra inédita, é justamente na ausência do processo fotográfico e do outro que se dá o trabalho. Curiosamente, esse é o único projeto de Paula Huven onde a figura humana não aparece, mas ainda sim depende dela. O livro-objeto precisa ser folheado pelo espectador, para que esse se depare com a descrição de imagens que a artista viu, mas que por não estar com a câmera, o registro nunca foi feito. Lendo as descrições, essas imagens são reconstruídas, cada uma diferente da outra, por cada leitor. Assim, aqui como em outros trabalhos, o pensamento acerca da fotografia é expandido para além da imagem, e o instante fotográfico é redimensionado pela artista para o que ela chama de “momento fotográfico”, contruído a partir de outra relação com o tempo e com o outro.
Fernanda Lopes
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[1] O dispositivo fotográfico e o estar em relação com o outro também definem os processos de trabalhos como Relações (2007-8) – quando houve uma troca de retratos, feitos em Polaroid, entre a artista e os comerciantes em situações cotidianas pelo Leme, bairro onde morava logo quando se mudou para o Rio de Janeiro – e Encontro com autorretrato (2008) – que registra em fotografia o encontro da artista com seu autorretrato em pintura e abre assim brechas para questões sobre a representação e relações entre pintura e fotografia, e o processo de construção da imagem.