Colecionar naufrágios:
1 – Gravar um naufrágio é retomar pela gravação, pela ação de corrosão do metal através do ácido, o processo de arruinamento do visível. Fazer gravura é fazer ruína.
2 – Na gravura as imagens dos naufrágios ardem sobre a matriz, ecoam nas impressões e no próprio espelhamento reverso da estampagem de seu afundamento.
3 – O afundamento é inevitável. A cegueira é inevitável no processo de imersão. A superfície nos engana sobre a real profundidade da imagem gravada em nosso olho, falindo o olhar durante toda tentativa de aprendê-la, de capturá-la na ferrugem de seu apagamento.
4 – Gravar um naufrágio é se tornar o mar invisível que corrói as imagens de nossa imaginação.
| "Como sobreviver a um naufrágio – Referências e Literaturas": série dedicada a postagens relacionadas à pesquisa do artista Márcio Diegues, contendo trechos e anexos de sua dissertação "Entre o mar e o vento: o desenho como membrana", apresentada no PPGAV-EBA-UFRJ em 2017. Todos os textos são de autoria de Márcio Diegues. Este conteúdo também está disponível no Instagram da Galeria Ibeu. |