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Conversa com Gisele Camargo e Ivair Reinaldim


Nesta quinta 1º de dezembro, a Galeria Ibeu convida Gisele Camargo e Ivair Reinaldim para uma conversa sobre a exposição "A Capital", em cartaz até o dia 23 de dezembro de 2011.

O evento é gratuito e tem início às 19h.

A Capital - Texto de Ivair Reinaldim

A Capital / Gisele Camargo


Não estamos diante de paisagens desabitadas, mas de espaços ansiosos, sempre na imanência de quem os habite, de quem os signifique. Eis uma questão de ponto de vista. Trata-se em reconhecer qual será o nosso: fixo ou móvel, constante ou permutável, distante ou próximo. Aqui, pintura e galeria correlacionam-se mediante a ideia de acontecimento e, pelo breve instante de sua duração, são continuidade uma da outra. Deduzimos, então, que esperam por nós, seja para habitá-las, seja para que nelas tenhamos a percepção de nossa própria presença, reforçando o sentimento de coexistência.

De meros sujeitos contemplativos, somos compelidos a nos tornar olhos-corpos, nos movimentar por esses espaços, aproximar, recuar, inquirir a superfície, buscar detalhes, imaginar. Vertov referiu-se a um cine-olho (kino-glaz), assinalando que a câmera era capaz de capturar algo que a visão humana não apreendia – o que Benjamin posteriormente chamou de inconsciente óptico. Hoje poderíamos falar em ‘olho-cine’, ressaltando um modo peculiar de perceber, registrar e organizar aquilo que nos cerca. Através de nossos olhos, passamos a ‘cinematizar’ o mundo.

Alguma coisa da ordem da relação entre pintura e cinema, já presente em outras pesquisas de Gisele Camargo, transparece de modo mais intenso em A Capital. A escala ampliada dessas pinturas, juntamente com seu horizonte alto, assinala a passagem de um descontínuo posicionar-se diante da paisagem: ora estamos distantes, ora pisando no mesmo solo, ora olhando tudo através de um ponto de vista de sobrevoo. Estamos rodeados por alguma coisa que acontece ao mesmo tempo, mas da qual só podemos apreender um instante a cada vez. Não é pintura em plano-sequência, como nos antigos panoramas, mas um mundo conscientemente editado, fragmentado, construído por camadas, enquadramentos, ângulos e elipses, e mesmo assim, um mundo tão real quanto aquele que está ‘lá fora’.

Representação e realidade coexistem. Uma não antecede a outra, pois ao mesmo tempo em que percebemos o mundo, o imaginamos. Assim, a representação só pode ser a continuidade daquilo que anteriormente é uma subjetivação de tudo que nos cerca. Construir a imagem é construir a realidade. Eis aí o momento em que nós, no ato de observar (capturar), compartilhamos com a artista a capacidade de apreensão, elaboração e significação daquilo que transcende a mera forma, a mera superfície da imagem. Artista e espectadores, somos todos um pouco criadores.

Ivair Reinaldim / outubro de 2011

A Capital - Gisele Camargo


A Galeria de Arte Ibeu encerra suas atividades de 2011 com a individual A Capital, de Gisele Camargo, artista selecionada pela Comissão Cultural do Ibeu através do edital do Programa de Exposições 2011. A exposição tem curadoria de Ivair Reinaldim e será inaugurada no dia 17 de novembro (quinta-feira), às 20h. A mostra ficará aberta ao público de 18 de novembro a 23 de dezembro, das 13h às 19h, de segunda a sexta, com entrada franca.

GISELE CAMARGO apresenta a instalação A Capital, composta por pinturas de grandes formatos, todas realizadas em 2011, e em sua maior parte estruturadas como polípticos. “A intenção é que o espectador seja levado pela paisagem. Para isso, meus trabalhos são pensados como um todo e projetados de forma instalativa, usando a arquitetura do espaço”, diz a artista.

Sua investigação estabelece-se a partir das relações entre pintura e cinema no processo de construção de paisagens e na ênfase na experiência que podemos ter diante do espaço. O curador Ivair Reinaldim comenta no texto da exposição: Alguma coisa da ordem da relação entre pintura e cinema, já presente em outras pesquisas de Gisele Camargo, transparece de modo mais intenso em A Capital. A escala ampliada dessas pinturas, juntamente com seu horizonte alto, assinala a passagem de um descontínuo posicionar-se diante da paisagem: ora estamos distantes, ora pisando no mesmo solo, ora olhando tudo através de um ponto de vista de sobrevoo. Estamos rodeados por alguma coisa que acontece ao mesmo tempo, mas da qual só podemos apreender um instante a cada vez. Não é pintura em plano-sequência, como nos antigos panoramas, mas um mundo conscientemente editado, fragmentado, construído por camadas, enquadramentos, ângulos e elipses, e mesmo assim, um mundo tão real quanto aquele que está ‘lá fora’.

Gisele Camargo nasceu no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha. Tem formação em Pintura pela Escola de Belas Artes da UFRJ e frequentou cursos da Escola de Artes Visuais do Parque Lage. Tem Herzog, Lynch e Tarkovski como referências importantes para seus trabalhos. Recentemente inaugurou a exposição Metrópole, na Galeria Mercedes Viegas, também no Rio de Janeiro.

Edital 2012 - Último Dia de inscrições

Inscrições até 4 de novembro (para inscrições por correio,
será válida a correspondência com data de postagem até 4 de novembro)

Edital + Ficha de Inscrição