Dentre os artistas da coletiva Novíssimos 2009, Iuri Casaes foi considerado o melhor expositor desta edição, recebendo assim, como prêmio, uma exposição individual na Galeria de Arte IBEU em 2010, ano em que a Galeria completa 50 anos de atividades. Acompanhe a entrevista de Iuri Casaes para a Galeria IBEU:
- É comum conhecermos o trabalho de um jovem artista por meio de blogs/sites e até redes sociais. Ao pesquisarmos sobre você, encontramos muitas referências a trabalhos no campo da ilustração e dos quadrinhos. Conta um pouco dessa experiência pra gente…
Essa experiência começou como leitor. Por proximidade mesmo. Galerias, exposições, sempre foram mais distantes. Ilustração e quadrinhos são muito parecidos, uma coisa remete à outra, e também é mais fácil de se iniciar sozinho. Era o caminho mais previsível. Estudei um pouco de comunicação e tive uma breve experiência como ilustrador de publicidade. Depois, vim para o Rio e conheci a escola de Gravura. Optei por essa formação.
- E como surgiu o interesse pela Gravura - e pela graduação em Gravura na Escola de Belas Artes - UFRJ?
Surgiu quando conheci os ateliês de gravura da UFRJ, que é um lugar muito rico de aprendizados. Faz pouco tempo. A característica de edição da gravura tem a ver com ilustração e cartoon, então foi uma ligação fácil. Aos poucos vi como ela faz pensar a imagem de outras maneiras, outras possibilidades, a gravura responde diferente do desenho comum, isso foi aumentando minha estima. Como o ateliê de gravura é coletivo, a convivência com outros autores também é um dos meus principais interesses.
- Voltando aos quadrinhos: Na série de gravuras apresentadas na coletiva Novíssimos 2009, é nítida a referência a um imaginário e estrutura próprios aos quadrinhos - principalmente no que diz respeito a narrativa, criação de personagens e construção de cenas. No entanto, tais narrativas (apresentadas em um conjunto de 8 gravuras) não se apresentam de modo linear, muito menos conclusivas, pois, enquanto conjunto, seu trabalho nos proporciona diversas leituras, e, ao mesmo tempo, em cada gravura da série encontramos todo um universo narrativo particular. Gostaríamos que você comentasse esse interesse pela construção narrativa em sua produção artística…
Tem a ver com essas referências à ilustração e HQ. A idéia é essa, descobrir caminhos que não sejam lineares nem conclusivos, ou seja, suas possibilidades. Não deixa de ser uma leitura do próprio método, uma referência ao seu processo construtivo. Ao esforço de pôr ordem nas idéias. Tem mais a ver com a dúvida do que com a solução. Em “dos camundongos reprogramáveis”, por exemplo, ocorreu de partir dum texto de biologia. É difícil ler um texto de biologia sem pensar em Deus, mas esse falava de manipulação genética nos ratos, que agora tem rato fluorescente, rato que toca música, rato com mil utilidades, mas em nenhum momento falava de ratos comestíveis e eu lembrei que tem gente que come sariguê. E sariguê nem é roedor. Etc. Então, eu parti duma coisa pronta para um estudo, uma série de imagens que, ironicamente ou não, para interpretar um raciocínio, perderam a lógica. Na prática funciona como um jogo de misturar algumas referências. É como se fosse uma tentativa de organizar as coisas.
- Uma curiosidade: desenho/ilustração + gravura/impressão são breves referências ao Cordel e aos Zines. Você já participou de publicações do tipo? Faço referência ao Zine não apenas por sua reprodutibilidade + médio custo + fácil aceitação, mas por ser esta, hoje em dia, uma espécie de publicação um tanto rara e até desconhecida por muitos - visto que a praticidade + custo (quase) zero e alta difusão das publicações online são uma realidade (e também necessidade) pra qualquer jovem artista. Como você vê a internet neste contexto?
Já participei. A internet é o lugar mais rápido de se publicar uma opinião e fazer contatos, então o velho zine não tem mais aquela urgência de existir. Continua existindo, e vai existir sempre como referência, mas agora tem o blog, fotolog, etc. Mais velocidade, cor. Isso impõe outro padrão de qualidade. Tem as tecnologias de impressão mais acessíveis. A internet não prejudica quem quer imprimir uma revista ou fazer uma xilogravura, pelo contrário. É uma ferramenta muito prática para a comunicação dos fanzineiros, gravadores, para todos os grupos que se achavam separados.
- Além do desenho e da gravura, você pesquisa ou tem interesse em pesquisar algum outro suporte/procedimento em sua produção artística?
Sim. Mas também a idéia de desenho e gravura pode se expandir.
- Quais os seus artistas de referência?
Atualmente são meus professores e colegas de trabalho.
- Você já tem planos para sua exposição individual na Galeria de Arte IBEU em 2010?
Tenho só algumas sugestões.